Bozeman, Montana. Um garoto de dezesseis anos, que sempre viveu no interior do estado de Goiás e sonhou por anos em conhecer os Estados Unidos, visitava uma cadeia montanhosa mais de 2.000 m acima do nível do mar, e esse garoto era eu.
A temperatura era extremamente baixa para os padrões de um brasileiro: -14°C, com sensação térmica de aproximadamente -25°C. o frio cortava meu rosto e trincava meus lábios (talvez eu tivesse passado mal, se não estivesse tão bem agasalhado). Tudo a minha volta era neve. A reflexão da luz solar na imensidão do branco (só raramente interrompida pelo verde intenso das coníferas) feria meus olhos.
Minha empolgação era incontestável. Não que eu não tivesse tocado neve antes, mas aquilo era diferente... era mágico! Marina, Samara, Leonardo, Lucas e eu, os cinco Jovens Embaixadores que haviam ido para a reserva estadual de Highlight, estávamos totalmente deslumbrados pela paisagem das montanhas distantes. Nossas famílias hospedeiras haviam nos levado lá para conhecer o que há de mais belo no inverno estadunidense.
Ouviam-se milhões de cliques de câmeras a todo momento. “One pic with my camera, Maia!”, entoávamos em uníssono. Era impossível renegar a imensidão da natureza ao nosso redor, e seria um insulto não registrar cada momento daquela tarde maravilhosa.
“Eat snow, Vinnie!”, meus “familiares” americanos insistiam: “It’s not that tasty, but you have to do it!”. Eu provei. A sensação foi muito mais psicológica do que biológica. A neve não tinha sabor, mas aquela porção de gelo em flocos na minha garganta acelerou meu coração com a sensação de SIM, EU ESTOU AQUI! EU CONSEGUI!
Por um momento eu não queria mais nada em minha vida, só ficar parado, com neve até os joelhos, para sempre. Mas ainda tínhamos sledding para fazer! Do alto da colina descemos inúmeras vezes nas pranchas emprestadas dos nossos “pais”, em uma sucessão interminável de tombos e gargalhadas, até finalmente chegar a hora de partir.
As pessoas costumavam dormir muito cedo em Montana – por volta das 8 da noite – e realmente não poderíamos nos demorar muito naquela tarde, pois deveríamos estar de pé e bem acordados na manhã seguinte para desfrutar da nossa próxima aventura: uma visita ao Parque Nacional de Yellowstone.
